Olá, tenho quase 30 anos e vivo como se ainda fosse adolescente. Já fiz os exames do secundário três

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Olá, tenho quase 30 anos e vivo como se ainda fosse adolescente. Já fiz os exames do secundário três vezes e mudei de curso quatro vezes, apesar de ter desejado mudar mais vezes. Não tenho responsabilidades, porque sempre que as tenho esquivo-me e não as consigo cumprir com qualidade - falo de faculdade, emprego, até mesmo reunir-me com grupos de amigos. É-me muito difícil fazer amigos e sinto que sou manipulador quando o faço, pois só me interessa ficar amigo de pessoas que têm elevado estatuto social na sua área profissional. Para além disso, usei os amigos que tinha para que por osmose adquirisse as qualidades deles, por sempre me considerar inferior. No secundário sinto que parei de crescer porque não permiti-me explorar, em vez disso eu queria construir-me enquanto pessoa indo numa direcção muito estreita e restrita: basicamente, eu só poderia conquistar o direito a existir se fosse bom em alguma coisa, se tivesse algum talento ou qualidade. Custa-me a admitir mas julgo os outros pelo mesmo critério. Hoje em dia sei que pessoas que sabem amar e fazer os outros sentirem-se bem também são importantes, mas quando era mais novo achava mesmo que só quem tira boas notas ou é profissional num desporto ou é dedicado a um hobby ao ponto da profissionalização é que valia a pena existir. Devido a acções nefastas que tomei, como falar mal de outras pessoas, vivo em constante paranóia de ser descoberto. O problema é que a toda a hora vejo pessoas a fazerem o mesmo e ainda assim mantêm amigos e grupos sociais. Perdi imensos amigos porque não aguentava mais manter a máscara de que estava tudo bem - é como se a pessoa que me obriguei a ser durante a adolescência finalmente cedesse e eu não aguentasse mais continuar a crescer naquela direção. Antes disto eu tinha problemas sociais mas nada demais e conseguia ir convivendo com colegas de turma de forma casual, mas ter amigos de extrema confiança sempre me foi difícil, porque sinto que tenho um demónio dentro de mim e não quero que as pessoas o saibam, por isso finjo ser boa pessoa e muito preocupado com os outros, mas na verdade só tenho um desejo violento de ser aceite e validado. Por fim, todos os dias vivo com pensamentos obsessivos sobre se serei narcissista, ou borderline, ou sociopata, ou esquizotípico, ou obsessivo-compulsivo, bipolar, etc. Vivo obcecado com rótulos de doenças mentais porque sei que se passa algo de fundamentalmente errado comigo e não o consigo curar. Não me resta entusiasmo para viver quando todos os dias tenho uma cassete na cabeça que me diz que sou a pior pessoa do mundo. Evito relacionamentos íntimos porque não consigo relacionar-me com ninguém. Eu sou uma pessoa que não existe, não tenho convicção nas minhas crenças, apesar de ser muito auto-crítico e escrutinador, não me sinto uma pessoa real e completa. Se me deixarem sozinho durante horas eu provavelmente vou para a internet ler fóruns sobre doença mental de forma obsessiva, a tentar relacionar-me com alguém, a tentar encontrar uma explicação para os meus problemas. Se me chateio com alguém uma vez eu nao vou atrás, espero que venham atrás de mim, e se não vierem, por muito que goste das pessoas, deixamos mesmo de nos dar. Isto causa-me ansiedade e depressão a um nível extremo. Eu tentei orientar a minha vida para me desinteressar de seres humanos e apenas querer estudar ou trabalhar, mas nem isso consigo fazer (ser produtivo) porque estou sempre a odiar-me na minha cabeça, e sinto que isso é merecido. Fantasio muitas vezes com suicídio porque está a ficar insuportável viver desta forma. Sonho também em ser internado num hospital psiquiátrico, onde possa tentar recuperar, porque não consigo ter uma vida normal - ver séries, filmes, ler livros, fazer desporto, atividades sociais, estudar - sem os meus pensamentos tomarem conta de mim e me lembrarem de que tudo o que fiz na vida contribui para uma imagem de mim que me agonia e é muito negativa, mas que corresponde à realidade. Eu não vivo de acordo com os meus valores. E tenho problemas de auto-imagem e problemas no que concerne à aceitação do meu corpo, já que não sou convencionalmente atraente. Tento ir para o ginásio mas desmotivo-me sempre que a minha vida social começa a melhorar, depois sinto que ja me posso focar noutra coisa e que não é tao importante ser atraente para ter pessoas interessadas em mim e que posso ser atraente por ler certos livros ou ver certos filmes, etc. Bem, estou muito em baixo com isto tudo. Mal saio de casa e não consigo ter entusiasmo para tarefas dentro de casa, tipo atividades solitárias. Só queria que os meus pensamentos negativos obsessivos desligassem, mas depois sinto-me culpado se isso acontece porque sinto que mereço torturar-me e que é melhor torturar-me mentalmente do que relacionar-me e fazer mal aos outros (não é meu hábito mas as pessoas afastam-se de mim por algum motivo). Sou muito neurótico e depressivo. Se alguém leu até aqui, obrigado, agradeço imenso. Se tiverem algo a dizer sobre o tipo de ajuda que seria mais relevante, ou qual transtorno de personalidade posso ter, agradeço também.
Dra. Joana Vitória Silva
Psiquiatra
Alfena
Bom dia. Vejo que vive em grande sofrimento e autocritica intensa. Relata vários sintomas que poderão pertencer todos a uma família comum de perturbação. Penso que deveria procurar ajuda de um técnico de saúde mental para iniciar um caminho de autoconhecimento maior a seu respeito.

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